Essas garotas malvadas… como não amá-las?

Nunca, jamais, em tempo algum menospreze sua antagonista. Sua história será tão poderosa quanto ela. Pense, o que seria de X-men sem a Mistica? Ou Batman sem a Mulher-Gato? Ou de toda a franquia Disney sem qualquer um  a de suas vilãs? Ah, essas meninas malvadas… como não amá-las?

O caso é que é dificil fazer uma história em que os leitores se vêm torcendo para a antagonista. O meu livro preferido é sobre uma antagonista. A diva, Toni Morrison (que nos deixou há um ano), publicou Sula em 1973. É seu segundo livro e, na minha humilde opinião, o meu preferido – e sim, li todos os romances dela.

* Ok, a parte em ítalico contém spoilers! *

Sula é uma garota dificil de compreender. Ela faz o que dá na telha, e não fica se reprimindo. É claro que isso leva Sula a fazer a única coisa que você não devia fazer com o marido da sua melhor amiga – pois é. Ela faz justamente isso aí que você está pensando. Tinha que ser isso, né?

Mas ainda cometendo a pior das injúrias que uma mulher pode cometer com a outra, ainda torcia por Sula – por que a liberdade dela não é compreensível e muito dificil de se reproduzir. Viver livre de amarras sociais – principalmente para mulheres – é quase um sonho. Requer coragem. E Sula é cheia de coragem.

O caso que me faz torcer por Sula não é um despeito pela amiga traída (coitada). Mas porque Sula tem um motivo – muito claro – para sua ação. No livro, ela diz, “A gente dividia tudo. Por que agora as coisas são diferentes?” Podemos pensar que Sula é até um pouco inocente, mas ela não deixa de ter razão. Quando a amiga pergunta “por que você tirou ele de mim?” ela diz, “eu não o matei, só transei com ele.”

*Fim do spoiler de Sula.*

Vilões que se prezem têm uma linha de pensamento que faz sentido. Mistica quer ser aceita na sociedade como ela é, e ela entende que para isso os humanos precisam se curvar e aceitar sua inferioridade aos mutantes. Malévola quer se vingar do rei pela decepção e a perda das suas azas. E Serena Joy, em O Conto da Aia de Margaret Atwood, constrói o sistema do qual ela mesma se torna vitima mais tarde. Irônico e perfeito.

Comece a dar a verdadeira importância para seu vilão mesmo antes de começar a escrever a história. Empregue o mesmo esforço dado às sua protagonista para desenvolver seu antagonista. Desenvolva a mesma quantidade de história de fundo para que você conheça profundamente o seu antagonista. Elabore um objeto forte e claro para seu vilão. Algo que ela acredite que está no único caminho possível e que seu objetivo é nobre. E tenha certeza que seu raciocínio faça sentido para o leitor.

Lembre-se: ela é o heroína de sua própria história e deseja profundamente algo que pensou e decidiu ir atrás – que seja preferencialmente oposto do que sua protagonista quer. Ela também pode desejar exatamente a mesma coisa que sua heroína, e isto pode ser o melhor conflito que sua história pode ter. Personagens espelhadas é uma ótima maneira de construir o conflito entre a protagonista e a antagonista.

Certifique-se de que este embate seja intenso.