“Você gosta muito de escrever, Paula”, a voz surpresa da professora Délia, da segunda série, entrou pelos meus ouvidos e se aninhou em meu coração. Essa é minha primeira memória de escrita.
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Eu tinha apenas oito anos. Era mês de maio e a professora Délia havia pedido para cada aluno da classe escrever um verso de duas linhas para homenagear as mães. Eu fiquei alguns minutos olhando para o papel em branco e ouvindo algumas sugestões que a minha mestre dava de mesa em mesa.
Não pedi ajuda. Peguei o lápis e comecei a agradecer à minha mãe pelas noites em claro que ela passou para cuidar de mim. Eu morava a 700 km de distância dela e, com toda a certeza, a saudade foi um combustível poderoso para a minha criatividade. Sentimentos sempre são gatílhos para meus melhores textos.
Quando as palavras pararam de brotar de dentro de mim, as duas linhas haviam se transformado em uma página inteira, frente e verso.
Levantei a mão para indicar que havia terminado, e a professora ficou admirada com a densidade do meu poêma. Dias depois, fui chamada à sala da diretora, onde encontrei minha tia, com quem eu morava na época. A escola queria publicar minha redação no jornal do estado.
A professora Délia ficaria feliz em saber que aquela sementinha, minha primeira memória de escrita, virou se transformou nessa crença bonita, de gostar de escrever. A professora Délia ficaria feliz em saber que aquela afirmação guiou minhas escolhas profissionais e tem dado frutos, no jornalismo e também na literatura.
Dentro de mim, carrego sempre um verso de gratidão à professora Délia. Se ela algum dia duvidou de sua vocação como mestre, eu espero que ela saiba que fez um belo trabalho.
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